Blog Outras Palavras

Para que serve o divã?

O divã não é um simples móvel no consultório, ele é um lugar estratégico. Deitado, virado para a janela e de costas para o analista, o analisando tem uma relação diferente com o que passa em sua mente.

Não é diretamente ao analista que ele fala. Convidado por este a falar abertamente o que vem à cabeça, o sujeito entra num estado de associação livre. Claro que ninguém consegue manter esse tipo de corrente solta de pensamentos o tempo todo. Diria até que é impossível.

Mas a estratégia está aí: em que ponto não se pode mais sustentar esse tipo de fala? A pessoa está deitada, olhando para fora do consultório, já um pouco perdida no que diz e de repente se interrompe. Sentiu vergonha de algo? Não quis falar mal de alguém? Ficou incomodada com a própria presença do analista ouvindo suas intimidades?

É no divã que nos deparamos com aquilo que escondemos de nós mesmos. Essas coisas, até então assombrosas, de uma hora para outra – com uma pergunta do analista, um encorajamento para seguir falando – podem vir à tona. Então percebo que não fui tão vítima numa situação, que isso que se repete comigo não pode passar em branco e preciso resolver… entre outras reflexões que esse “devanear ativo” pode trazer.

Dizem que acordamos para voltar a sonhar, a viver num mundo cheio de regras não ditas, mas que seguimos sem questionar. No consultório se deita para acordar. Acordar para a outra cena, o teatro do inconsciente, para onde vai tudo aquilo que a razão ignora, mas que o corpo denuncia constantemente. É a fadiga que revela o excesso de trabalho, o aperto na garganta de tanto segurar as palavras. Uma angústia. Uma paixão inconfessa.

Se você está exausto de viver pela metade, talvez precise se deitar para sonhar um mundo diferente. Essa pode ser a semente de uma transformação sem precedentes.
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Gabriel Bernardi - Doctoralia.com.br